quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Às voltas com a vida

Volta, vida
Volta na vida
Volta à vida
Revira e volta, vida
Reviravolta da vida
Reviravolta à vista
Volta e avisa
Volta à vida à vista!
Dar a volta, na vida
É sempre uma reviravolta
À vista, que volta à vida
E assim, sabemos, há vida

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Timoneiro

O experiente timoneiro quer se aposentar
Lavrado ao seio de ressequidas terras,
Muitas vezes enfrentou a fúria do mar.
Após sangrentas e numerosas batalhas,
Seus braços fatigados querem repousar;
Antes, os ideais sobrepujavam-lhe o ânimo
Animavam a eterna chama sedenta de embate.
Porém marcha longe a peleja de anos plúmbeos...
E jaz roto, junto ao velho uniforme, o ardor de engajamento;
Tornou-se discurso da tribuna festiva e boêmia,
Apenas memórias de um combatente entristecido.
Urra e chacoalha ébrio o oceano das desventuras,
A vela remete a nau ao mistério conhecido
E descortinadas as malfadadas brumas da realidade,
Pouco resta de um experiente timoneiro:
Lembranças, amores e muitas aventuras inglórias,
Trapos puídos de uma rica e triste história.
Vai com fé marujo das terras ressequidas...
Leva contigo o afeto dos teus entes queridos
Descansa, pois neste caminho não vais sozinho
Navegamos juntos para os mares do infinito
E a corrente onde navegas segue para onde também vou...
Espera que um dia te alcanço,
Aguarda com fé, paciência e amor,
Descansa em paz meu querido avô.

João Bastos

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arraia do místico

A revolução realiza o infinito da inconstância
Na matéria etérea onde a vontade cristaliza
Crisálida, vaga, deserto gélido da nostalgia
Árida existência da evolução ínfima, íntima
Mutável necessidade, só o que nos resta é viver
Extrair a experiência no âmago amargo do desalento
Evoluir os aspectos holísticos deste desatinado destino
Amplidão e infinito, enigmática arraia do místico.

República submarina

Lástimas...
Triste fim, arlequim tropical
Palhaço anônimo, cidadão.
Eleitor de uma já naufragada nau
Segues nu e desorientado à beira do abismo,
Mas vais tranqüilo...
Não morrerás sozinho, não.
Terás companheiros na empreitada,
Juntos na enormidade vácua,
Findos os estigmas, os conflitos,
Toda nau náufraga gera vida
E lamenta os portos como amantes...
Uns ainda vêm, outros ficam,
Atlântica, federativa, república submarina.

A turba

Galga a pedra lisa o eremita
Esmera o dedo que escorrega
Sua, sangra, serpenteia a superfície
Luta com a rocha serena e ensolarada
Abaixo, a multidão de sombras marcha
Arrasta esperança pela realidade descampada
O vento se esquiva e o solo sertanejo estala
A vaquejada alquebrada da Baixa da Vaca
Atrai pequeninas e magras formas enfermiças
Geme a turba dos esquálidos e desvalidos
Corajosos, determinados, nômades famintos
Quadros desesperados do desterro
Queimam ante o sorriso da sociedade apolínea
Hipócrita, corrupta, bela e coronelista...
Adora as cifras e orgias da fausta burguesia
Desfruta da tranqüila vida tropicalista
Lambuza-se na podridão política
Ignora a dor de estômagos onde o vazio grita
Como há fome no país onde tudo termina em pizza?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Azul sereno

Uiva ardente o vento noturno
Delirante bafejo do desejo
Sentimentos e passos no escuro
Bailarinas memórias ao peito.
Reluz nascente o mar dos caminhos
Indócil, a vontade é amazona
Sopra mel o vítreo azul sereno
Remete afagos ao relento matreiro.
O Sol desvirgina a cidade
Sedenta e despudoradamente bela
Abraço áspero do moderno delírio concreto
Sorve doce o desastrado épico ébrio.
Farfalha o escorrer das delícias
As folhas secas namoram e valsam
Noite de sonhar, dia de ressurgir!
Parte as âncoras o rugir da temperança,
O sino dobra norte ao destino amadurecido
A brisa entoa inesquecível idílio, de sereia o brilho
Entre monte e mar, acorda colorido Rio
Deita sonhos ardentes a fugitiva madrugada...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Clara

Cartas marcadas no jogo da vida
Fotografias voam no jardim
O parquinho vazio e saudoso
Brinca sozinho em dias úmidos
O terno engole o triste garoto
A chuva dilui o império mirim
Bichos molhados resfolegam
Olho da beleza pequenina, que grita:
A girafa! Quero ver a girafa!
Mesmo ressequida, há vida
Aparece crisálida e criança
Inocente abraço do porvir
Clara memória inestimável
A esperança renasce no teu sorrir
Não cresça pequeno jasmim!